O turismo do conhecimento


No campus da Universidade Federal de Goiás (UFG), todos voltam a ser estudantes. Calouros, professores e sumidades passeiam de um lado para outro, todos com suas sacolinhas beges, procurando conhecimento. A reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) é uma celebração à curiosidade. “Eu adoro, trago meus filhos desde que eles eram crianças”, brincou o professor Ernest Hamburger, ele próprio uma sumidade.

Diretor do museu Estação Ciência da Universidade de São Paulo, Ernest Hamburger é professor aposentado do Instituto de Física da USP. Recebeu na abertura uma placa em homenagem à esposa, a professora Ana Amélia Hamburger, falecida em abril. Amelinha, como era conhecida, também era física e divulgadora de ciência. Quantos aos filhos, todos ficaram muito curiosos. Os mais famosos são a professora da ECA, Esther Hamburger, e o cineasta Cao Hamburger.

No dia seguinte à homenagem, Ernest circulava anônimo e com sua sacolinha bege na praça de alimentação montada ao lado do auditório. Comeu como um estudante, com pratos e talheres de plástico. Ali, engravatados de Brasília, cientistas, jornalistas, professores e estudantes de todas as partes do Brasil saboreiam iguarias universitárias: yakissoba – R$ 8 o médio, tapioca recheada a R$ 5, acarajé a R$ 5, pizza R$ 2 e cachapa – uma espécie de panqueca de milho – a R$ 3. Doutorando em Sociologia da UnB, Alan Aroni, 31 anos, ficou com um PF de frango, R$ 6. “Acabei de chegar, estou gostando, é muito interessante”, disse.

O auditório e a praça de alimentação ficam logo na entrada do campus da UFG. Andando um pouco mais para dentro do campus, os sbpcistas chegam ao Circo da Ciência, espaço composto por experimentos de várias universidades. Ali, a proposta é aprender brincando. Rafael Aragão, de 25 anos, garante que além de possível, também é fácil. “Quando as pessoas vêem e tocam, elas entendem conceitos que parecem complexos”, conta o mestrando da UnB em Ensino de Ciências. Rafael veio com mais seis colegas demonstrar as máquinas que farão parte do Museu de Ciência e Tecnologia de Brasília. “O público adora, já atendi crianças, alunos do ensino médio, técnico e superior.”

Na SBPC pratica-se o turismo científico, atividade com pouco luxo e muita informação. Os souvenirs são os folders distribuídos nos estandes dos ministérios e universidades. A sacolinha bege volta para casa carregada de papéis, livros e revistas.

Os turistas científicos também são loucos por fotografias. E o campus da UFG, cercado por árvores do cerrado, é pródigo em presenteá-los com boas imagens. Logo na entrada os organizadores colocaram um Cesar Lattes enorme de espuma para que os iniciados e os iniciantes façam suas fotos. A emoção maior, entretanto, acontece quando eles conseguem flagrar algum dos macaquinhos que vivem no campus. “Existe uma superpolução de macacos-prego aqui, não convém alimentá-los”, esclarece um rapaz, ex-estudante da UFG. Alimentar não pode. Tirar foto, sim.

Na SBPC, existe a tietagem a pesquisadores. Uma saudável prática que costuma render frutos futuros. Os congressos científicos são uma oportunidade para trocar conhecimento, para se aproximar dos pensadores da sua área ou de outras áreas sobre as quais se tem interesse. “Estou adorando, não imaginava que seria tão bom, é muita informação”, contou Sara Sanches, 22 anos, aluna de Farmácia da Universidade de Rondônia que enfrentou dois dias de ônibus para chegar até aqui. Com sua máquina fotográfica a tira colo, Sara não queria perder nem cliques, nem informações.

por Érica Montenegro


One Comment on “O turismo do conhecimento”

  1. Grazielle disse:

    Sou filha da UFG, embora esteja na UnB, sinto muita falta desse clima!


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