Crianças precisam “cienciar”

A curiosidade das crianças não pode ser silenciada. Foi o que defendeu o professor da Universidade de Brasília e subsecretário da Criança e do Adolescente do Governo do Distrito Federal, Isaac Roitman. “Quando os olhos delas brilham é porque querem ler o mundo. O professor precisa saber decifrar isso”, disse durante o lançamento do livro “A urgência da educação”, que escreveu com o professor Mozart Neves Ramos, da Universidade Federal de Pernambuco e membro titular do Conselho Nacional de Educação.

Isaac afirmou que é necessário fazer mudanças urgentes no sistema de ensino brasileiro. “Nós já perdemos muito tempo para pagar a dívida da má qualidade da educação no Brasil. Chegaremos a um ponto em que a situação vai ficar irreversível”, sustentou.

Ildeu de Castro, diretor de Popularização e Difusão da Ciência do Ministério de Ciência e Tecnologia, acredita que o ensino da ciência deve ser baseado na investigação desde os primeiros anos. “As crianças não podem apenas aprender os conceitos, elas precisam ‘cienciar’, fazer ciência”, defendeu. Isaac interrompeu: “Em muitas escolas parece que o professor ouviu ‘cienciar’ e entendeu ‘silenciar’. As crianças são curiosas, mas acabam ficando mudas na sala de aula”, contou.

Para o professor, a mudança mais importante a ser feita é na formação e valorização dos professores. A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro Isabel Martins apresentou dados que mostram um avanço no número de cursos de pós-graduação em Ensino de Ciência. De 2000 para cá, o número de programas na área passou de sete para 60. “Precisamos enxergar, entretanto, que a situação é mais complexa. Essas pessoas não vão ser responsáveis por todas as mudanças que a educação precisa. Não adianta falar em melhorias se o professor não tem salário digno nem plano de carreira”, afirmou.

Isabel defende que o ensino da ciência deve capacitar a criança a ler o mundo, e permitir que ela reflita sobre sua posição na sociedade. “Como já dizia Paulo Freire, a leitura do mundo deve preceder a leitura das palavras”, concluiu Isaac.

por Juliana Braga



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