Agências de fomento induzem pesquisadores ao conservadorismo

O ex-diretor da Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Evando Mirra de Paula e Silva, afirmou que os sistemas de avaliação das agências de fomento brasileiras levam os pesquisadores ao conservadorismo. “As avaliações são construídas de tal forma que induzem os pesquisadores a trilharem caminhos já conhecidos e se aventurarem pouco em novidades”, comentou durante conferência na 63º Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). “Toda atividade científica envolve incerteza e risco, mas, por medo de perderem a bolsa, os pesquisadores acabam assumindo projetos mais seguros para aprovação”, explicou.

Evando Mirra criticou também a ausência de parâmetros que avaliem o trabalho em equipe. “A pesquisa hoje é resultado de várias mãos. Aquela imagem do cientista sozinho no laboratório está defasada há anos. As avaliações têm de levar em conta a complexidade das interações entre os pesquisadores”, completou.

José Renan Cunha Melo criticou as avaliações por darem mais peso à produção quantitativa. “Você vale pelo que você publica, nem tanto em qualidade, mas em quantidade”, disse. Professor da Universidade Federal de Minas Gerais, José Renan destacou também a fragilidade do sistema de informações que subsidiam as avaliações. “Os avaliadores não são delegados de polícia. Eles confiam nas informações que são passadas pelos pesquisadores no relatório, mas não há um sistema de controle. Isso dificulta demais as avaliações”, analisou o professor, que já foi avaliador da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

Para Fernanda Sobral, do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília, os apresentadores trouxeram dados interessantes. “Eles mostraram que embora o fomento esteja caminhando nessas novas tendências, a avaliação em alguns momentos ainda caminha da forma mais tradicional”, comentou.



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